No Brasil, 5,2 milhões de pessoas passaram fome em 2018, segundo dados da Organização das Nações Unidas. Além disso, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), um em cada quatro brasileiros vive em situação de pobreza. O relatório Cenário da Infância e Adolescência no Brasil (2019), da Fundação Abrinq, aponta que 47,8% das crianças brasileiras vivem na pobreza. Muitas delas dependem das escolas que frequentam para se alimentarem. Por isso, é importante falar sobre reabrir as escolas.
O fechamento das escolas em março provavelmente ajudou a evitar uma catástrofe ainda pior do coronavírus. No entanto, esse fechamento já se prolonga por mais de 4 meses sem previsão de término. Conversar sobre este assunto é fundamental!
O efeito educacional até o momento representa apenas uma pequena dimensão do dano causado às crianças.
Milhões de crianças dependem do café da manhã ou do almoço escolar. Pesquisas sugerem que quase metade das crianças menores de 12 anos podem estar passando fome. Milhões de crianças perderam o acesso aos serviços de saúde por meio de centros de saúde nas escolas. Existem grandes divisões por raça / etnia, geografia e classe econômica no acesso a computadores domésticos e à internet de alta velocidade.
O prejuízo é maior entre os estudantes que já estão em risco educacional e social. Crianças com dificuldades de aprendizagem significativas podem regredir sem instruções pessoais. Além disso, os funcionários da escola geralmente fazem cerca de 1 em cada 5 denúncias sobre abuso e negligência de crianças. Ou seja, sem o envolvimento de conselheiros escolares e assistentes sociais, esses problemas não estão sendo investigados.
A realidade do Brasil é triste, provavelmente muito diferente da minha e da sua. Precisamos abrir os olhos para a realidade e debater o quanto antes este assunto. Precisamos ter mais empatia por uma população que não tem representantes.
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Reabrir as escolas
Reabrir as escolas é uma prioridade nacional urgente. Para atingir esse objetivo com a maior segurança possível e reduzir as chances de as escolas fecharem novamente, os formuladores de políticas de todos os níveis devem considerar adotar um modelo bem estruturado.
As escolas deveriam abrir apenas para menores de 12 anos
Essa população é a mais afetada pelo fechamento das escolas. Mas, é a menos vulnerável ao coronavírus. Os adolescentes maiores de 12 anos se comportam como adultos em relação ao coronavírus, tanto em transmissão, quanto em contaminação.
Estabelecer distanciamento em cada escola
Lógico que será muito difícil fazer distanciamento entre as crianças. Os protocolos devem envolver a criação de mais espaço na sala de aula (com mesas espaçadas a 1,5 m), mantendo grupos de crianças juntas durante todo o dia para limitar a mistura, fechamento de áreas comuns, adicionar opções de transporte para aumentar o espaçamento (como em ônibus), limitando visitantes não essenciais e cancelando atividades extracurriculares que exigem contato próximo. Os funcionários e alunos mais velhos devem usar máscaras, principalmente quando é difícil manter o distanciamento.
Priorizar crianças que correm maior risco de perder a escola
Os sistemas escolares devem tornar a educação no local uma alta prioridade para jovens que enfrentam barreiras à aprendizagem remota, estudantes que recebem serviços de educação especial ou apoio nutricional na escola e crianças mais jovens (para quem o aprendizado on-line pode ser particularmente desafiador).
Os locais que têm um número maior de crianças devem receber recursos adicionais para espaço, novas equipes e tecnologia educacional. A reestruturação do horário escolar com estratégias, como horários alternados de manhã, tarde, diariamente ou semanalmente pode ser necessários para permitir o distanciamento. Esses horários devem oferecer mais tempo na escola para as crianças em maior risco, além de fornecer acesso à tecnologia educacional apropriada para todos.
Organizar a saúde pública
Para evitar a propagação da infecção, as escolas devem fornecer aos pais uma lista de verificação para documentar que as crianças não apresentam sintomas todas as manhãs e que nenhum outro membro da família está doente em casa.
Deve-se medir a temperatura na chegada, disponibilizar a lavagem das mãos e outros suprimentos e adotar horários para limpar áreas de alto contato e desinfetar as salas de aula, com equipamento de proteção adequado para a equipe de manutenção.
Além disso, as escolas devem informar quando os casos são identificados e estabelecer protocolos para testes adicionais de colegas e funcionários, limpeza complementar da escola e isolamento e quarentena em casa.
Respeitar as liberdades individuais dos professores e famílias
Independentemente das medidas usadas pelas escolas, alguns professores podem não querer voltar para a sala de aula e algumas famílias podem não querer enviar seus filhos para a escola. Professores, pais e responsáveis com mais de 65 anos ou com condições crônicas de saúde, ou famílias com bebês ou outras crianças com problemas de saúde, podem estar legitimamente preocupados com o risco de transmissão dentro de casa.
Uma solução seria treinar os professores de alto risco para atuarem como especialistas em aprendizado remoto, com o potencial de flexionar e incorporar outros alunos e professores durante os períodos de quarentena ou fechamento da escola.
Ninguém deve ser obrigado a voltar às escolas!
Independentemente de quais procedimentos sejam implementados, não será possível reduzir o risco de transmissão da covid-19 nas escolas para zero.
Mudar o currículo das escolas
Dada a probabilidade de aprendizado misto para muitos alunos, bem como retornos periódicos ao aprendizado totalmente remoto em caso de crescente disseminação comunitária da covid-19, os sistemas escolares devem identificar currículos apropriados que tenham estratégias presenciais e remotas, alavancando a tecnologia onde a idade permitir.
Os sistemas escolares devem desenvolver planos informados pelas orientações de saúde pública, com ampla contribuição de pais, professores, sindicatos, serviços de saúde escolar e, sempre que possível, estudantes. As considerações devem incluir, não apenas o planejamento acadêmico, mas também o apoio da família. Dado o estresse relacionado à pandemia que muitas crianças experimentaram, os sistemas escolares devem contratar conselheiros, assistentes sociais e enfermeiros adicionais para ajudar as famílias regularmente. As lições das escolas comunitárias bem-sucedidas devem ser amplamente aplicadas a esses tipos de intervenções.
Remanejar o dinheiro público
O Congresso deve disponibilizar rapidamente fundos suficientes (em bilhões) para os estados e localidades para apoiar a educação do ensino fundamental. Precisariam estar disponíveis fundos extras para os distritos de escolas públicas que se espera que enfrentem as maiores lacunas de pessoal e infraestrutura, com base em fórmulas que medem o número de crianças que recebem assistência nutricional e serviços de educação especial.
É inadmissível ter um fundo eleitoral de bilhões e saber que existem crianças passando fome!
A vacina não estará disponível de imediato, por isso, temos que pensar em alternativas. Por seus efeitos sobre as crianças, o legado da covid-19 durará anos. A urgência e o desafio de reabrir escolas exigem, hoje, a atenção total da nação.
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