O cigarro continua sendo a principal causa evitável de morte no mundo, mas esse fato mórbido é facilmente esquecido neste momento de pandemia. Estima-se que todo ano o cigarro cause mais que o dobro de mortes causadas pelo coronavírus.
No Brasil, 428 pessoas morrem por dia por causa da dependência à nicotina. 56,9 bilhões de reais são perdidos a cada ano devido a despesas médicas e perda de produtividade, e 200 mil mortes anuais poderiam ser evitadas, segundo dados do INCA.
Apesar de toda as informações e campanhas sobre os malefícios do cigarro, hoje, no Brasil, cerca de 11% da população é fumante.
A OMS (Organização Mundial da Saúde) aponta que o tabaco mata mais de 8 milhões de pessoas por ano. Mais de 7 milhões dessas mortes resultam do uso direto deste produto, enquanto cerca de 1,2 milhão é o resultado de não-fumantes expostos ao fumo passivo.
A OMS afirma, ainda, que cerca de 80% dos mais de um bilhão de fumantes do mundo vivem em países de baixa e média renda, onde o peso das doenças e mortes relacionadas ao tabaco é maior.
“Não é apenas a constância duradoura que torna a epidemia de cigarros tão invisível. A indústria da nicotina consegue muito bem transformar a maior pandemia do mundo em notícias antigas ou, mais precisamente, em uma escolha pessoal, colocando a culpa no usuário e não nela mesma”, ressalta o Dr. Daniel Benitti, cirurgião vascular que atende em São Paulo e em Campinas.
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Quando vemos e analisamos a cultura do cigarro sob um novo ângulo, concentrando-se nas alianças políticas que ajudam a manter as vendas do produto florescendo nas décadas seguintes à Segunda Guerra Mundial, percebemos que a base de energia natural para a indústria do tabaco sempre foi uma aliança com governos que ficaram viciados no fluxo de caixa gerado pelos impostos sobre os cigarros.
A ampliação dos impostos sobre o tabaco deu origem a uma poderosa classe política, ansiosa e disposta a defender a vara viciante.
Um estudo publicado em 1995 desempenhou um papel importante na divulgação de documentos da indústria do cigarro sobre a necessidade da empresa de determinar a “nicotina mínima necessária para manter os fumantes normais viciados”.
A indústria do cigarro negou até o último momento a informação de que o cigarro faz mal aos seus usuários, embora soubesse disso há muitos anos. No mundo todo, foi muito difícil a proibição de fumar em locais fechados, como local de trabalho e restaurantes, embora ainda existam países nos quais isso seja permitido.
Recebemos constantemente a notícia de que menos pessoas estão fumando, mas, no Brasil, estima-se que sejam fumados mais de 100 bilhões de cigarros por ano!
Os fabricantes de cigarros continuam prosperando financeiramente. O Credit Suisse em 2015 apontou que os cigarros foram o principal investimento financeiro da história dos Estado Unidos: 1 dólar investido em ações de tabaco em 1900, por exemplo, valia mais de 6 milhões de dólares em 2010. Altria, mãe da Philip Morris EUA, ainda tem um valor de mercado de 76 bilhões de dólares, e a Philip Morris International vale 112 bilhões de dólares, mesmo após recente turbulência no mercado.
“Os fabricantes de tabaco mudaram a estratégia e estão lançando cigarros eletrônicos. Eles também têm o efeito viciante da nicotina e causam problemas de saúde, mas estão sendo vendidos como uma opção saudável”, alerta o Dr. Daniel Benitti.
O fumo ainda permanece onipresente nos filmes de Hollywood e séries de TV, influenciando diversos jovens a iniciarem o vício. Quantas cenas estão vindo na sua cabeça agora? Infelizmente, ainda vemos muitas pessoas fumando na rua e isso faz parte do nosso dia.
Acreditamos na ideia de que todo mundo sabe dos malefícios do cigarro, mas a verdade é que ele ainda faz parte de nossa rotina e a influência sobre os jovens é enorme. Precisamos saber mais sobre como e por que os cigarros são tão presentes em filmes e séries.
Precisamos prestar mais atenção aos cigarros, inclusive neste período de pandemia, pois o consumo aumentou. O vício em nicotina vai sobreviver ao coronavírus, prendendo milhões em cadeias que levam ao sofrimento e à morte. O estrago causado à saúde humana é pior do que qualquer vírus, a catástrofe não é apenas evitável, mas também política.
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