Mulheres com Lipedema, o American College of Cardiology (ACC) publicou recentemente sua visão das competências que são esperadas dos especialistas em medicina vascular. Não apenas reconhece o Lipedema, mas também reconhece o Lipedema como uma entidade distinta dos distúrbios linfáticos com os quais é normalmente agrupado. O título da seção em negrito diz tudo: “[Seção] 4.2.7 Doenças linfáticas e lipedema.”
O relatório em si é o esforço conjunto de um comitê de 18 pessoas, incluindo representantes oficiais do American College of Cardiology (ACC), American Heart Association (AHA), American College of Physicians (ACP), Association of Black Cardiologists (ABC), Society for Cardiovascular Angiography and Interventions (SCAI), Society for Vascular Nursing (SVN), and the Society for Vascular Surgery (SVS). O comitê foi apoiado por mais 25 revisores multidisciplinares, um número impressionante que mal excede o número bastante impressionante de letras nas abreviações organizacionais.
As recomendações detalhadas no relatório têm como objetivo orientar o treinamento para cardiologistas que concluam uma bolsa de 3 anos e optam por se especializar em medicina vascular. Nos Estados Unidos, isso é alcançado por meio de uma “bolsa de estudos em medicina vascular avançada” com um ano de duração, seguida por um exame pelo American Board of Vascular Medicine.
Para contextualizar a importância de ser conhecido e reconhecido, temos que olhar para Lipedema como um campo emergente, embora a primeira descrição tenha sido realizada em 1940 e acometa 11% das mulheres!
Em todo o mundo, o Lipedema continua subdiagnosticado. Mesmo em países como Alemanha e Suíça, onde o Lipedema é mais comumente diagnosticado, as mulheres demoram, em média, 15 anos para o diagnóstico ser feito [fonte]. No Brasil, as pacientes ficam surpresas ao saber que a doença não é nova (embora desconhecida pela maioria dos médicos), acomete 11% das mulheres, apresenta diversas manifestações sistêmicas e que será inclusa como doença no CID-11 apenas em 2022.
Essa falta de conhecimento e informação sobre o assunto torna o diagnóstico difícil. Sem diagnóstico, o tratamento nunca será iniciado e isso causa muito sofrimento para as mulheres.
Também sabemos muito pouco sobre as causas do Lipedema. A orientação do ACC é importante neste ponto, reconhecendo a relação do Lipedema com os distúrbios linfáticos, mas reconhecendo a complexidade do campo. O Lipedema é uma doença sistêmica e não apenas do tecido adiposo. Eles implicam que o problema maior pode ser simplesmente que as pacientes com Lipedema requerem uma consideração especial, um tratamento multidisciplinar, e não apenas uma cirurgia de lipoaspiração.
Isso é o início de uma nova jornada e um sinal de esperança. Futuros especialistas serão treinados para usar o exame clínico e identificar a diferença entre Lipedema, linfedema e obesidade para assim determinar um plano de tratamento.
Aqui no Brasil já fundamos a Associação Brasileira de Lipedema e iniciamos o Lipecurso para treinamento de médicos e futuramente todos os profissionais da saúde para diagnosticar e tratar o Lipedema. As mídias sociais também estão fazendo um papel importantíssimo de divulgação da informação. Muitas mulheres estão fazendo o próprio diagnóstico. Este é um caminho com crescimento exponencial e que não tem mais como ser parado.
O relatório especifica uma compreensão dos “sintomas e achados físicos do Lipedema” e estratégias de gerenciamento como a drenagem linfática manual. Isso aborda diretamente os longos atrasos que levam ao diagnóstico, garantindo um treinamento específico sobre as necessidades das pacientes com Lipedema.
Todos os médicos deveriam saber o que é Lipedema e como tratar (ou o que não fazer) devido a alta prevalência da doença. Este treinamento em medicina vascular vai gerar uma nova geração de médicos que saberão o que é Lipedema. Isso certamente levantará mais dúvidas e pesquisas sobre o assunto, podendo auxiliar no tratamento de muitas mulheres no futuro.
Quanto mais afastarmos o Lipedema do componente estético (que também tem sua importância!), mais mulheres serão beneficiadas.
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Dr. Daniel Benitti – cirurgião vascular especialista em Lipedema, que atende em São Paulo, Campinas e a distância.
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